juntas
2020
A partir de um pequeno filme inacabado, uma colaboração com um musico francês, a pesar da minha grande decepção, assisto às imagens filmadas e me encontro com mais uma aproximação às minhas pesquisas conceituais e estéticas. Nessas sequências de experimentação e encenação, achei um certo lirismo e pertinência. As sequências já captadas são uma encenação de duas mulheres, em um cenário natural da típica mata atlântica, onde a relação delas se manifesta por meio de movimentos de uma coreografia, elas vestem roupas similares e estão maquilhadas e penteadas iguais. Além do estético, elas também se confundem, se procuram, se desencontram, algo de uma busca identitária em um relacionamento. Inspirada originalmente pelo trabalho da coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker, eu chamei Camila Ribero, bailarina carioca do Ballet da Cidade de São Paulo, e a autora e atriz paulista Carla Kinzo. Junto com elas, que são as duas atrizes do filme, a intenção é de continuar essa busca, via encontros virtuais, por causa dos tempos de isolamento, trazendo trechos do livro de Carla "Satélite" (projeto com que ela ganhou um ProAC de Criação Literária do Governo de São Paulo e na 2a edição do Edital de Publicação da Cidade de São Paulo recebeu menção honrosa no prêmio Nascente, da USP). Sob a minha direção, Camila, Carla e eu, desde nossas casas, tentaremos nos aproximar especificamente de uma coreografia que se chama "Rosas danst Rosas" (1982), onde a distinção do mesmo e do outro são essenciais. Essa peça coreográfica foi emblemática no trabalho ao redor do feminino na obra de A.T. de K. Faz um oito anos, para comemorar os 30 anos da peça, a companhia da coreógrafa postou o paso-a-paso para quem quiser replicá-la e postá-la online. Achei interessante, nestes momentos de isolamento e do apoleo do DIY, de brincar com esta situação de continuar um trabalho ao estarmos isoladas.
Retomaremos as imagens filmadas, e conversaríamos com nossas imagens de webcam caseiras, fazendo a coreografia, ações pedidas para fazer com olhos fechados, trazendo certas frustrações à tona que contribuem na elaboração do projeto no foco da impossibilidade de encontro. Pontuar uma aceitação do outro na sua diferença. En definitiva, uma repetição da tentativa de se aproximar ao outro, de se compreender. Essa construção seria visível também com alguns trechos do texto de Carla, permeando também os interstícios dos silêncios e cadencias da construção visual.
Assim, na linha das minhas pesquisas visuais e conceituais, esse trabalho é também invadido pelos conceitos do duplo e da repetição, como as minhas referências conceituais, tais como as ideias de Gilles Deleuze, Kierkegaard, Clément Rosset, até os filmes de David Lynch, Alfred Hitchcock e de Ingmar Bergman.